sábado, 20 de novembro de 2010

Gastronomia tradicional timorense

Singa de Camarão

Ingredientes:

• 6 colheres de sopa de molho de tamarindo

• 1 kg de camarões

• 3 dentes de alho

• 2 colheres de sopa de banha

• 1 cebola

• 1 molhinho de hortelã

• piripiri q.b.

• sal q.b.

• 4 grãos de pimenta



Preparação:

Depois de lavados os camarões, dá-se uma leve fervura em água temperada com sal.

Descascam-se deixando as cabeças.

Leva-se um tacho ao lume com a cebola cortada às rodelas, os dentes de alho esborrachados e a banha.

Assim que a cebola esteja translúcida junta-se o molho de tamarino, a hortelã os grãos de pimenta, piripiri, sal e os camarões.

Deixa-se ferver um pouco para apurar.

Sirva acompanhado com arroz branco.





Flor de Papaia com Carne de Porco





Ingredientes:

• 250 gr de carne de porco entremeada com alguma gordura

• 350 gr de flor de papaia

• 1 papaia verde pequena

• 6 dentes de alho esmagados sem retirar a casca

• 3 colheres de sopa de óleo

• 1 colher de sopa de balichão

• sutate q.b.



Preparação:

Corta-se a papaia às fatias finas transversais, deixando-a com casca. Tempera-se a carne de porco cortada em tiras muito finas com alho, sal e limão. Num tacho, com o óleo bem quente, junta-se o alho até alourar e depois a carne de porco cortada e, quando a carne estiver meio frita, acrescenta-se a papaia cortada às fatias; deixa-se refogar por algum tempo juntando então umas gotas de sutate.

Arroz de lingueirão

Arroz de Lingueirão






Ingredientes:

(para duas pessoas):

• 1/2 kg de lingueirão

• 150 g de arroz carolino

• 1/2 pimento vermelho

• 1 cebola grande

• 1 folha de louro

• 1 dente de alho

• Azeite, sal e pimenta q.b.

• 1 raminho de coentros



Preparação:

Lava-se bem o lingueirão. Depois leva-se ao lume para abrir e filtra-se a água, pois é aproveitada para fazer o arroz. Num tacho, faz-se o refogado com o azeite, a cebola bem picada, o dente de alho inteiro e esmagado e a folha de louro. Acabado o refogado, junta-se o lingueirão, já cortado aos bocados. Deixa-se puxar um bocadinho e incorpora-se a água do lingueirão juntamente com o arroz, rectificando os temperos.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

AS CASTAS BRANCAS MAIS CONCEITUADAS INTERNACIONALMENTE

Deus apenas criou a água…


AS CASTAS BRANCAS MAIS CONCEITUADAS INTERNACIONALMENTE

Torrontés

A origem desta casta ainda não estará completamente esclarecida, mas os últimos estudos levam-nos a crer que é um cruzamento entre a moscatel e uma casta que se desenvolveu localmente à custa de videiras vitis vinífera, oriundas da Europa, mas sem se conseguir estabelecer essa ligação. Deram-lhe o sugestivo nome de criolla.

A versão anterior e possivelmente mais divulgada estabelecia a origem desta casta na Galiza. Esta hipótese sempre foi no entanto muito contestada pelo facto de não se conseguir encontrar na Galiza nenhum vinho que se assemelhe ao que é produzido na Argentina e, se é verdade que clima e o solo mudam o vinho, a verdade é que existe sempre uma matriz que permite identificar a casta.

É a casta bandeira nos brancos argentinos e não é por acaso, pois o vinho é de uma qualidade incontestável e de uma exuberância poucas vezes igualada. Aromas a lichias, rosas, moscatel, frutas tropicais são usuais. Na boca tem um bom corpo e a casta tem tendência para ser muito alcoólica e nesses casos é um pouco oleosa que no entanto é contrabalançada pela boa acidez que apresenta.

O vinho Crios da Susana Balbo é um bom exemplar desta casta.



Viognier

Esta é uma casta fundamental nos vinhos das Côtes du Rhône, em França, que entrou na moda a nível mundial nos princípios dos anos 90 assim com a sua região de origem, Condrieu, situada na zona norte desta região e onde só se produz vinho branco e é por vezes utilizada nos vinhos tintos misturada com a Syrah, também oriunda desta zona.

A videira precisa de climas quentes e a cor profundamente amarela da uva origina vinhos de cor carregada, alcoólicos e com aromas a alperces, pêssegos, pêra, mineral e flores.

Os vinhos de Condrieu são provavelmente os únicos vinhos brancos de alto preço que se devem beber novos, no entanto já bebemos alguns belos exemplares com 4 ou 5 anos de idade.

O elevado nível de álcool associado a uma grande estrutura faz com que sejam autênticos monstros e são fantásticos desde que a acidez se mantenha, esse que é o grande problema da casta, que precisa de boas maturações mas que por vezes perde a sua acidez tornando-os quase imbebíveis.

Em Portugal, José Bento dos Santos, grande apaixonado pelas castas desta região francesa, faz um dos melhores exemplares portugueses, o Madrigal. Outros bons exemplares podem encontrar-se também na Estremadura, agora denominada Lisboa como é o caso do Vale D’Algares, da Quinta do Lagar Novo ou da Quinta do Pinto.

Hildérico Coutinho

Detentor do 2º e 3º Nível do WSET (Wine and Spirits Education Trust)

www.galeriadevinhos.com

Quo Vadis? Enoteca e Cozinha Mediterrânica (Matosinhos)



In Jornal Beirão, nº 49, 5 de Novembro 2010

As tentações gastronómicas de 1 de Novembro em Português

É (de)gustar






1ª Mostra de Pastelaria Vegana

O Dia Mundial do Veganismo (O termo inglês vegan (pronuncia-se vígan) foi criado em 1944, numa reunião organizada por Donald Watson, envolvendo 6 pessoas (após desfiliarem-se da The Vegetarian Society por diferenças ideológicas), onde ficou decidido criar uma nova sociedade (The Vegan Society) e adotar um novo termo para se definirem a si próprios.Trata-se de uma corruptela da palavra "vegetarian", em que se consideram as 3 primeiras letras e as 2 últimas para formar a palavra vegan. Os veganos boicotam qualquer produto de origem animal, além de produtos que tenham sido testados em animais ou que incluam qualquer forma possível de exploração animal nos seus ingredientes ou processos de manufactura.) que se celebra a 1 de Novembro - dá o mote a este evento, inédito em Portugal, que promete fazer as delícias dos apreciadores de guloseimas, vegans e não só.

A organização, a cargo do projecto The Love Food, classifica a oferta de pastelaria presente no evento de surpreendente, tentadora, deliciosa e diversificada. Além do sabor, capaz de satisfazer qualquer gula, esta pastelaria revela-se pouco calórica, saudável, integralmente vegetariana (vegana), além de privilegiar o uso de ingredientes biológicos e da melhor qualidade sendo, por isso, ecológica.

A organização não quer deixar ninguém de fora, nem mesmo as pessoas com muitas limitações a nível da alimentação, como os intolerantes ao glúten ou os diabéticos. Por isso, está prevista a confecção de um bolo de chocolate sem glúten, sem gordura e sem açúcares processados.

Cookies, Cupcakes e Muffins, além de Bolos de Côco, de Chocolate e de Cenoura, integralmente vegetarianos fazem também parte do menu, entre muitas outras guloseimas.



A 1ª Mostra de Pastelaria Vegana decorre nos dias 31 de Outubro e 1 de Novembro, entre as 14h00 e as 17h00, em Lisboa. Mais informação no site thelovefood.blogspot.com



9ª Feira Nacional de Doçaria Tradicional de Abrantes



A maior Palha de Abrantes do mundo vai ser servida na nona edição deste certame dedicado à doçaria tradicional. O doce típico da localidade será reproduzido num tamanho 100 vezes superior à sua dimensão real, no dia da inauguração do evento. Serão precisos cerca de 720 ovos para a confecção deste doce, e muitos mais para todas as guloseimas que esta iniciativa traz às ruas de Abrantes, entre os dias 29 de Outubro e 1 de Novembro.

Doces, compotas e licores oriundos de todo o país adoçam a Feira Nacional de Doçaria Tradicional de Abrantes que conta ainda com animação específica dirigida a várias faixas etárias. Os mais pequenos podem assistir a uma sessão de contos infantis, “Faz & Conta”, que, na sua caravana, recorre a ferramentas do teatro e da música para atrair a atenção dos mais pequenos. “Tosta-Mista, o Malabarista” promete também animar os pequenos visitantes, logo a seguir à actuação do ATL “O Pequeno Lavrador”.

Já as noites serão dedicadas aos mais crescidos, com sonoridades que variam entre jazz, bossanova, e música tradicional portuguesa.

Duas exposições - uma sobre a doçaria tradicional e conventual e outra resultado dos trabalhos dos alunos do 1º Ciclo sobre o tradicional doce Palha de Abrantes completam o programa desta edição.

Gustave mostrará, sempre que possível, as iguarias que, por este país fora, alimentam os sonhos reais de um povo.

Gustave Gousteau

Jornal Beirão, nº49, 5 de Novembro 2010

O cérebro em grande plano

O cérebro em grande plano


Nova ferramenta informática põe a nu ligações neurológicas

2010-11-02





Uma equipa de investigadores holandeses, da Universidade de Tecnologia de Eindhoven, desenvolveu uma nova ferramenta informática capaz de converter imagens IRM em três dimensões – um sistema que permite estudar de forma detalhada a rede nervosa do cérebro humano.

A tecnologia criada usa um método não invasivo e torna-se relevante já que permite aceder a informações essenciais antes de qualquer acto neurocirúrgico. Por exemplo, a estimulação cerebral profunda consiste em introduzir um micro eléctrodo na zona cerebral e serve para tratar doenças como Parkinson.



A técnica pode ainda trazer numerosos avanços sobre problemas de ordem psíquica e neurológica, já que se podem ver estruturas cerebrais muito finas, como “massa esparguete” e as suas ligações. Contudo, os cientistas admitem estarem longe de conseguir ver tudo e referem que existem muitas conexões que ainda não se conseguem perceber.



Desenvolvido recentemente a partir de uma técnica chamada de HARDI (Imagética de Difusão de Alta Resolução Angular), a equipa utilizou-a e trabalhou-a de forma transforma-la e interpretar a visualização interactiva de dados complexos.



Este método de imagética cerebral poderá ser regularmente usado a curto prazo, mas ainda falta provar que as imagens correspondem à realidade.

Extraído de "Ciência Hoje", de 5 de Novembro 2010

terça-feira, 21 de setembro de 2010

domingo, 29 de agosto de 2010

Cozinha ayurvédica

"Todas as sabedorias tradicionais do mundo trazem uma mesma verdade simples: comida é vida. O ritual de comer transcende todas as fronteiras do tempo, cultura e religião. A comida é sagrada e o acto de comer é a comunhão directa com a energia divina da Mãe Natureza. De acordo com os antigos sábios Ayurvédicos, a comida nutre a nossa mente, corpo, sentidos e espíritos em todos os níveis do ser. Proporciona uma fundação para a exploração e evolução pessoal. Ao longo da nossa vida, desde o primeiro gole do leite materno até o compartilhar de refeições com os entes queridos, o ritual de comer tem raízes profundas na experiência humana." (Thomas Yarema, Daniel Rhoda, Chef Johnny Brannigan, em Eat, Taste, Heal - An Ayurvedic Cookbook for Modern Living).


Dentro dos ensinamentos da medicina ayurvédica, a alimentação é um dos pilares mais importantes. A grande preocupação é que toxinas não sejam formadas no organismo, decorrente de digestão inadequada ou incompleta. Para que isso não aconteça, devemos prestar atenção especial à digestão. Daí o uso de ervas e especiarias na culinária ayurvédica, para ajudar na correcta e efectiva digestão de alimentos. Outro factor importante é que a comida seja nutritiva, porém leve, saborosa, mas não muito condimentada, e simples sem muita variedade de alimentos na mesma refeição. Trabalhamos com alguns conceitos comuns a todos e outros, específicos para cada biotipo ou “dosha”, como são chamados em sânscrito, os humores biológicos, que são três, Kapha, Pitta e Vata.

Vata = Ar e Éter. Tem como atributo e característica ser leve, móvel, instável, seco e frio. Portanto a melhor dieta para as pessoas de natureza Vata, em linhas gerais, deve ser húmida, quente, nutritiva. Usar óleos de boa qualidade – “extra-virgem”, prensados a frio, o melhor óleo para Vata é o óleo de gergelim, mas o azeite de oliveira também se aplica muito bem. As especiarias devem sempre estar presentes na alimentação de um Vata, para ajudar na digestão deles que é irregular. Os melhores temperos para Vata são cominho, louro, erva-doce, pois reduzem os gases e aquecem a comida, mas o manjericão, gengibre, coentros, pimenta-do-reino, hortelã também podem ser usados e auxiliam na digestão, além de realçar o sabor dos alimentos e satisfazer os sentidos, do paladar, e olfacto principalmente.

Pitta= Fogo e Água. Tem como atributo e característica ser quente, leve, móvel, oleoso e penetrante. Portanto a melhor dieta para as pessoas de natureza Pitta, em linhas gerais, deve ser menos húmida, fria, nutritiva. Tendem a ter dificuldade em metabolizar alimentos gordurosos, que causam fragilidade e sobrecarregam a função hepática. Como é quente por natureza e tem uma óptima capacidade digestiva são as pessoas que se dão melhor com alimentos crus e frios. Quanto aos óleos para Pitta os melhores são girassol, coco e azeite de oliveira, mas sempre usando com moderação. Os melhores temperos para Pitta são os picantes suaves como a erva-doce, cominho, louro, coentro, cúrcuma e hortelã. Evitar totalmente as pimentas fortes, que provavelmente causarão em Pitta azia.

Kapha = Água e Terra. Tem como atributo e característica ser estável, pesado, húmido e frio. Portanto a melhor dieta para as pessoas de natureza Kapha, em linhas gerais, deve ser mais seca, quente e leve. Tendem a ganhar peso com facilidade e têm dificuldade em digerir carbohidratos e açúcares, devem comer o mínimo de açúcar e carbohidratos, preferindo sempre os integrais, que não darão um pico muito elevado de glicose no sangue não sobrecarregando tanto o pâncreas. Os óleos também devem ser usados com muita moderação e os melhores são girassol, oliveira e mostarda. Evitar totalmente alimentos muito oleosos, fritos e de difícil digestão. Os alimentos frios e crus só devem ser consumidos por Kaphta na hora do almoço e no verão ou nos dias mais quentes. As especiarias devem sempre estar presentes na alimentação de um Kapha pois a natureza deles é fria, servindo para ajudar na digestão. Os melhores temperos para Kapha são pimenta-do-reino, cominho, gengibre, cúrcuma, louro, erva-doce, manjericão e todas as pimentas fortes que aceleram o metabolismo e aquecem.

Gustave Gousteau

Plantar ervas aromáticas em casa sempre estiveram na moda

Gustave sempre se habitou a ver ervas aromáticas plantadas no jardim de casa, orégãos, alecrim, ciboulette… Cultivar ervas não é difícil, só precisa de um pouco de atenção. Vai precisar de um vaso, pedrinhas, mudas de ervas e terra fértil. Comece colocando pedrinhas no fundo do vaso ou floreira (pode pedir um pouco de brita de alguma obra), isso ajuda na drenagem do vaso, depois coloque um pouco de terra e por fim complete o vaso com mais terra. Feito isto é só regar diariamente com carinho e descobrir o lugar onde cada planta gosta de ficar, com mais ou menos sol, mais ou menos água mas a melhor forma é observar na prática. Salsa e manjericão, por exemplo, gostam de bastante água, já o alecrim, o estragão e a segurelha, menos água. Nos meus vasos e floreiras tenho manjericão comum, roxo, anão e gigante, segurelha, estragão, orégãos, manjerona, ciboulette, cebolinha, salsa lisa e crespa, tomilho, hortelã, menta e alecrim. Desbaste as plantas à medida que forem crescendo para impedir a acumulação excessiva. As sementes de salsa demoram um mês ou mais a germinar; a imersão das sementes em água durante 12 horas antes da sementeira pode acelerar a geminação.

O alecrim, a salva, o tomilho, a erva-cidreira, a hortelã e o estragão são plantas perenes; a manjerona comporta-se em climas frios como anual e em climas amenos como perene; a salsa e o cebolinho são plantas bienais, e o funcho, a segurelha e os coentros são plantas anuais.

Onde usar cada erva também se aprende com o tempo, eu gosto de usar alecrim em assados e principalmente carne de suínos, manjericão com tomates, manjerona com frango e ciboulette com molhos brancos.


Cuidados

Mantenha o vaso ou o canteiro livre de ervas daninhas. Evite que nos canteiros, a hortelã e a erva-cidreira se propaguem excessivamente fazendo uma cerca de telhas. Em alternativa plante-as num balde velho sem fundo enterrado no chão.

A salsa e a angélica precisam de mais humidade que a maioria das outras ervas aromáticas; assim, regue-as a períodos regulares e com mais frequência no tempo seco. Aplique um pouco de adubo no final da estação de crescimento.

Conservação de Ervas Aromáticas

A maioria das ervas aromáticas pode ser colhida quando em botão e prestes a florir, para secar e consumir no inverno.

Colha numa manhã quente e seca, depois do orvalho ter desaparecido, mas antes do sol aquecer demais. São estas as condições em que o teor de óleos essenciais é mais elevado. Colha com cuidado, uma variedade de cada vez, deitando fora as folhas mortas ou murchas.

Para secar regule o forno no mínimo. Estenda uma mousselina ou outro pano fino de algodão sobre uma grade para bolos. Mergulhe pequenos molhos de ervas em água a ferver durante alguns segundos para as lavar e ajudar a conservar a cor. Sacuda a água e ponha as ervas a escorrer sobre papel absorvente. As folhas de hortelã, salva ou outras ervas de folha larga podem secar-se sem os caules.

Coloque as ervas sobre a musselina e leve ao forno, deixando a porta levemente entreaberta. Vire as ervas ao fim de 30 minutos para garantir uma secagem regular. Deixe no forno até as folhas estarem quebradiças - habitualmente ao fim de cerca de 1 hora.

A secagem das ervas ao ar demora cerca de 10 dias, consoante a temperatura e ventilação. Proceda como anteriormente e, quando as ervas estiverem bem escorridas, envolva cada molho em musselina ou outro pano fino de algodão para o proteger de poeiras e pendure-o pelo pé num lugar quente, seco e arejado. As ervas estarão secas quando as folhas e os caules se apresentarem quebradiços.

De vez em quando, pela manhã quando vou regar os vasos, pego numa folhinha de alecrim ou de hortelã e mastigo, hehe, acreditem, deixa o hálito bom.



Gustave Gousteau


in "Jornal Beirão", 6 de Agosto 2010

segunda-feira, 31 de maio de 2010

O Teatro da Academia, dirigido por Jorge Fraga,  em representação do IPV-ESE., venceu o Prémio do PÚBLICO no Fatal 2010 - Festival de Teatro Universitário de Lisboa.

domingo, 30 de maio de 2010

Almoço Gourmet

Quer sair da rotina?


Quer passar um domingo diferente sem ter de se preocupar com estacionamento?

Gostaria de poder usufruir de bons vinhos sem pensar que vai conduzir?

Nós temos a solução.

Preço por adulto: 40 euros

Crianças até 10 anos: 25 euros

Crianças até 15 anos: 30 euros



(Os preços incluem autocarro, almoço e visita às caves.)

A pensar em si, que gosta de experimentar novos saberes e novos sabores, organizámos uma viagem temática.

Gastronomia Gourmet e prova de vinhos.



Marcações através dos telemóveis:

964609274 ou 917554684

Dia 20 de Junho

(Domingo)

Programa

• 9,00 – Saída de Moimenta da Beira (junto à central de camionagem);

• 10,00 – Paragem em Viseu (rotunda do Rossio);

• 13,00 – Almoço gourmet em Matosinhos,

no restaurante "QUO VADIS"

• 15,00 – Visita às caves do vinho do Porto

• 17,00 – Regresso.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Receitas da Avó Mina - Sarapatel

Receitas da Avó Mina




Hoje os saberes vêm de Moçambique e os sabores da Índia. Esta receita tem mais de 60 anos de experiência de paladares. Experimente, que é delicioso.





Sarapatel



1 kg de fressura e carne de porco (total);

10 pimentas secas;

½ colher de chá de cravinhos;

2 a 3 paus de canela;

1 colher de sopa de pimenta;

½ colher de cominhos;

5 a 6 dentes de alho;

Gengibre q.b.



Moer tudo com vinagre. Cozer a carne com um pouco de pó de açafrão e sal e depois corta-se em quadradinhos e frita-se bem.

Refoga-se 1 cebola bem grande com bastante alho e gengibre. Deita-se o tempero e a respectiva carne. Deita-se a água em que se cozer a carne e o sumo de tamarindo e pimentas verdes.

domingo, 25 de abril de 2010

Deus apenas criou a água…

Deus apenas criou a água…


Hildérico Coutinho

Uma das vantagens dos jantares enogastronómicos que organizei sob a égide da Galeria de Vinhos e agora, mais amiúde, no Quo Vadis?, é o de descobrir vinhos e castas de um valor inesperado e inacreditável. Foi o que aconteceu recentemente com os vinhos da Gabriela Canossa, uma enóloga já com alguns anos de prática, responsável pelos vinhos de uma mão cheia de produtores e experimentalista por natureza, foi dela a primeira experiência, em Portugal, com colheitas tardias de uvas afectadas por Botrytis, usando a mesma casta que é utilizada em Sauternes e Barzac, por lá conhecida por Semillon e cá por Bual. O resultado foi o de tornar o nome Grandjó um nome respeitado, no que a vinhos de colheitas tardias diz respeito

Mais recentemente, com a Quinta da Revolta, tem experimentado fazer vinhos mono casta, com espécimes que estavam em risco de desaparecer e que graças a esse esforço, estou certo, não mais acontecerá. Falo-vos da Touriga Fêmea e da Tinta Francisca, que durante uns tempos se disse ser a grande Pinot Noir da Borgonha, mas não parece ser esse o caso, até pelo vinho que me foi dado provar. De facto, o belíssimo vinho que tive oportunidade de beber desta casta está longe de ter a cor típica de um Pinot, que mais parece um clarete. Este tem uma cor bem mais intensa, aromas a frutos pretos e que com o passar do tempo se tornam parecidos com o vinagrinho típico do vinho do Porto. Grande vinho e a um grande preço (12,20€ na Galeria de Vinhos) este Tinta Francisca de 2006, que sendo um ano difícil, mais abona a favor da casta. A casta Touriga Brasileira, perdão Touriga Fêmea, que tiveram medo que se pensasse que ela tivesse vindo do outro lado do Atlântico e resolveram rebaptizá-la. As loucuras habituais de quem tem poder e gosta de o demonstrar. Mas, dizia eu, a Touriga Fêmea é de facto muito feminina, pois o vinho que origina é de uma elegância a toda a prova e fantástico para acompanhar um polvo ou um bacalhau.

Neste tempo em que grande parte dos vinhos do Douro e não só são portentosos é de louvar o aparecimento de uma casta que origina vinhos tão elegantes como este de 2007 que bebi.

Outra novidade que também apreciei foi um Riesling, já vos falei desta grande casta alemã, da zona de Pinhel, com vinhas a 800 metros de altitude e que deram origem a um vinho muito engraçado, do melhor que já provei desta casta produzido em Portugal, pois que para atingir o nível dos grandes vinhos alemães ainda terá de crescer um bom bocado. No entanto, para quem está a começar a dar os primeiros passos, só podemos dizer que são muito promissores. De facto este Casas Altas –Riesling 2008 tem um estilo que é muito apreciado na Alemanha, pois apresenta uma grande mineralidade e a acidez é controlada por um açúcar residual que o torna mais fácil para a maioria dos palatos.

Desde já e publicamente aqui vai o meu obrigado aos produtores que vão permitindo à Canossa estas experiências.

Hildérico Coutinho

Detentor do 2º e 3º Nível do WSET (Wine and Spirits Education Trust)

www.galeriadevinhos.com

Quo Vadis? Enoteca e Cozinha Mediterrânica (Matosinhos)

In Jornal Beirão 2010

Cozinha de fusão ou como os portugueses foram os seus precursores

É (de)gustar




Cozinha de fusão ou como os portugueses foram os seus precursores



São vários os países que reclamam para si a “pátria” da chamada cozinha de fusão, designação que nem sempre tem tido a retaguarda cultural que o assunto merece. A grande vantagem da presença dos portugueses no mundo é que a nossa cozinha de fusão ficou por várias gerações, e entrou no património cultural de muitos países.

O termo cozinha de fusão é gratuitamente utilizado. Desde que haja misturas de produtos ou técnicas de regiões, ou países, chamamos literalmente cozinha de fusão. Contudo, a cozinha de fusão não é tanto uma combinação e uma mistura de ingredientes mas especialmente um encontro de culturas que cria pratos naturalmente novos. Esta mistura de culturas manifesta-se de tempos a tempos em criações culinárias novas. Mas o mais importante, e ainda mal inventariado, são as receitas que perduram, que entram na tradição, independentemente da consciência ou contribuição directa para os conceitos de cozinha de fusão. Vários autores sustêm que a cozinha de fusão é essencialmente um dos processos naturais pelos quais as cozinhas evoluem.

A culinária portuguesa, tantas vezes acusada de bruta, pouco fina e fora de moda, tem condições de se apresentar a qualquer tipo de mesa. Alguns chefes de cozinha estrangeiros têm chegado aqui e descoberto a riqueza dos nossos produtos e têm tratado bem o tipo de confecções que ainda valorizam mais os produtos.

Canneloni de açorda de marisco, molho de crustáceos, vieiras laminadas e essência de coentros, carpaccio de novilho com vinagrete de wasabi, salada mizuno e rábano estaladiço, como entradas, ou garoupa assada em escama de batata e chouriço de porco preto, lombo de charolês laminado, pak choi, chutney de manga com redução de soja e sésamo, eis uma ementa de um dos muitos restaurantes que fazem cozinha de fusão no nosso país, um pouco por todo o lado, sobretudo em Lisboa e Porto.

Gustave deixa-vos, esta semana, com duas receitas de cozinha de fusão, uma mais prática mas a outra não menos apetitosa, sobretudo nos dias quentes de Verão que, esperemos, cheguem!

Tostas com cogumelos , queijo e molho de iogurte.

Salteiam-se os cogumelos em azeite com ervas, sal, pimenta e um pouco de alho, enquanto se derrete queijo à escolha, com yogurte natural, sem sabor, e tempera-se com sal e pimenta, a gosto.

Serve-se com tostas, cebolinho e flores comestíveis, amores perfeitos, por exemplo.





Camarões grelhados com salada de abacate e papaia (Leonardo Guzmán)

Ingredientes para 2 pessoas

500 g de camarões tigre médios para grelhar

1 pêra abacate madura

1 papaia média

1 colher de sopa de malaguetas frescas picadas

1 colher de chá de mostarda de Dijon

3 colheres de sopa de azeite

3 colheres de chá de açúcar

3 colheres de sopa de sumo de lima

1 colher de chá de pimenta preta em grão





Preparação



Descasque e corte a papaia e a pêra abacate em fatias compridas. Coloque os restantes ingredientes, à excepção da pimenta preta, numa taça e mexa com uma vara de arames para bater ou use a varinha mágica, até dar consistência ao molho. Reserve uma parte deste preparado para temperar os camarões. Grelhe os camarões com casca, durante três minutos de cada lado. Vá pincelando com o molho que reservou. Coloque os camarões grelhados no prato de servir. Disponha a salada de papaia e abacate no prato e tempere com o restante molho. Decore com pimenta preta em grão.



Gustave Gousteau, in Jornal Beirão, 2009

sábado, 17 de abril de 2010

OS PRINCIPAIS SENTIDOS NA PROVA DE VINHOS

Deus apenas criou a água…


Hildérico Coutinho

OS PRINCIPAIS SENTIDOS NA PROVA DE VINHOS

Na prova de vinhos pode considerar-se que intervêm quatro dos cinco sentidos, deixando de fora a audição (alguns, especialmente dotados, poderão utilizá-la para ouvir a explosão das bolhas de espumante!).

Tacto

Desempenha um papel menor na prova de vinhos, mas pode ser utilizada para detectar a textura dos taninos ou das bolhas e a viscosidade do vinho, apesar de na minha modesta opinião, se poder incorporar tudo isto no paladar.

Visão

A observação cuidada do vinho pode ajudar-nos a detectar algum defeito no vinho e a determinar a sua idade. Sujidade no vinho é normalmente sinal de problemas assim como uma cor dourada num vinho branco indica oxidação, no entanto nem sempre esta oxidação é negativa, por ela pode ter sido propositada (ao estagiar em barricas de carvalho) ou pode decorrer da passagem do tempo em garrafa. Nestes casos a evolução pode ser positiva ou negativa e isso só se detecta com o sentido seguinte, o olfacto e confirma-se com o paladar. Se os aromas forem predominantemente ferrosos, então o vinho deverá estar estragado e isso confirma-se com uma boca desequilibrada com um sabor mineral muito intenso.

Um aspecto curioso da oxidação dos vinhos é o percurso em termos cromáticos que os brancos e tintos percorrem confluindo com a idade para praticamente a mesma cor, o “castanho casca de cebola”.

Os termos mais usuais nas classificações das cores dos vinhos são as seguintes:

– BRANCOS

• Incolor

• Verde limão

• Amarelo (palha)

• Dourado

• Âmbar

– TINTOS

• Púrpura (retinto)

• Rubi

• Granada

• Acastanhado (tijolo)

Olfacto

Este é um dos sentidos que nos pode proporcionar mais prazer e no entanto é um dos mais desprezados pelos consumidores. De facto o prazer que um aroma pode proporcionar só é compreensível para alguns e é pena porque poderia sê-lo por todos, bastaria que prestassem atenção ao que os rodeia. Com isso, a memória olfactiva, que numa primeira fase poderá ser quase inexistente vai ficando cada vez mais poderosa. Além do prazer que pode proporcionar, também nos ajuda a detectar eventuais defeitos no vinho.



Paladar

Aqui está o mais viciante de todos os nossos sentidos e felizmente apenas uma pequena percentagem da população não lhe presta a mínima atenção. Todos os outros, em maior ou menor escala sofrem do pecado da gula exactamente pelo grande prazer que nos pode proporcionar.

O que gostaríamos aqui era que passassem a prestar ainda mais atenção a este sentido tentando responder sempre que possível às seguintes questões:

- Estou a gostar? Porquê?

- Que estou a comer? Quais são os ingredientes que compõem este prato ou que outros ingredientes têm sabor parecido?

São questões fundamentais para o exercício de memorização do paladar e se as fizerem vão ver que os quão difíceis são de responder numa primeira fase, mas também o quão aliciante é este desafio.

Ter atenção ao sabor envolve também ter atenção à textura, viscosidade, persistência ou profundidade, algo que aliás é usualmente confundido.

A nossa língua é um fantástico aparelho capaz de percepcionar os sabores básicos que são detectados de uma forma mais intensa em determinadas zonas.

O amargo, por exemplo, é detectado fundamentalmente na parte de traz da língua (zona central). Para não confundir com a acidez basta lembrarmo-nos da água tónica ou do menos conhecido Bitter Kas.

Na parte lateral da língua é detectado com particular incidência a acidez. Uma das técnicas muito utilizadas para perceber a acidez é o de prestar atenção à quantidade de saliva produzida após a ingestão, pois é ela que, graças às suas propriedades alcalinas, vai neutralizar o excesso de acidez no nosso estômago. Diz-se aliás que se não salivássemos o nosso estômago romperia com os ácidos que ali temos e produzimos.

O sal é detectado na frente da língua, mas ligeiramente lateral e também é bem perceptível na parte central da língua.

Na ponta da língua está o detector principal do doce e não convém pois escaldá-la.

Hildérico Coutinho

Detentor do 2º e 3º Nível do WSET (Wine and Spirits Education Trust)

www.galeriadevinhos.com

Quo Vadis? Enoteca e Cozinha Mediterrânica (Matosinhos)



In Jornal Beirão, 16 de Abril de 2010

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Premier jour de classe à Ville St-Laurent...*

Premier jour de classe à Ville St-Laurent...*



1er septembre... le directeur fait l'appel des élèves.



-"Mustapha El Ekhzeri"

-"Présent"



-"Ahmed El Cabul"

-"Présent"



-"Kadir Sel Ohlmi"

-"Présent"



-"Mohammed Endahoui"

-"Présent"



-"Ala In Ben Oit"



Silence.



-"Ala In Ben Oit"



La classe demeure silencieuse.



Pour la dernière fois: "Ala In Ben Oit".



Soudain un garçon dans la dernière rangée se lève et dit au directeur:



C'est moi, mais ça se prononce:

Alain Benoit

Deus apenas criou a água…

Deus apenas criou a água…


Hildérico Coutinho

Era minha intenção falar-vos, nesta crónica, da prova cega para a escolha dos vinhos que foram escolhidos para o Top10 da Wine. No entanto, tal não vai se possível por não ter na minha posse as notas que dei aos vinhos em prova e era essa a abordagem que pretendia. Assim, ficará para a próxima, já ia a dizer, se Deus quiser, mas como ateu que sou, não posso falar disso.

Falarei então de duas provas belíssimas e didácticas em que tive o prazer de participar: a prova vertical dos vinhos moscatéis de Setúbal da José Maria da Fonseca e a prova comemorativa dos 100 anos da República.

Ambas foram prazerosas e da primeira destaco, até pelo preço convidativo que apresentam, os moscatéis roxos com cerca de 10 anos de idade, que apresentam uma complexidade e qualidade absolutamente ímpares. Da segunda prova, em que provámos, três vinhos de 1910 e um de 1908, um Porto, um moscatel e dois da Madeira, devo dizer, que parti para ela condicionado. Esperava que os vinhos da Madeira “atropelassem” os concorrentes. De facto, os vinhos da Madeira ainda poderiam ter ficado em casco, onde de facto envelhecem, por mais alguns anos, tal a juventude que apresentaram. No entanto, como vós bem sabeis, a juventude tem raça, mas nem sempre qualidade e quase nunca complexidade. O vinho do Porto estava cansado, o que não me espantou por estarmos a falar de um vintage. Surpreendente foi a qualidade do moscatel apresentado, com uma complexidade ao nível dos melhores néctares que bebi, longe do estilo cansado que por vezes tive a oportunidade de provar e com a nota, digna de registo, de ter sido engarrafado após 75 anos em barricas. Absolutamente fantástico e os senhores da José Maria da Fonseca estão de parabéns.

Mais uma vez, se já não me tivesse acontecido por demasiadas vezes ainda poderia tomar por lição, mas a verdade é que não podemos ser preconceituosos em relação ao vinho, como aliás, não o devemos ser em relação a nada na nossa vida.



Quero pois exortá-los (gosto desta expressão) a viverem e a beberem de forma a “darem vivas à Cristina”, cujo significado ficará para uma próxima oportunidade.



Hildérico Coutinho

Detentor do 2º e 3º Nível do WSET (Wine and Spirits Education Trust)

www.galeriadevinhos.com

Quo Vadis? Enoteca e Cozinha Mediterrânica (Matosinhos)

In Jornal Beirão, 2010

A rã solitária, de António Torrado

A rã solitária


Era uma vez uma rã que vivia num charco. Vivia sozinha. O charco também era pequeno.

Sentia a falta de outras rãs, para lhe fazerem companhia e coaxarem ao despique nas noites de Lua cheia. Sentia que, se outras rãs vivessem com ela, podia nadar de bruços com mais folgança, velocidade, estilo… Sentia que os saltos que dava para dentro de água, à falta de espectadores, nem jeito nem graça tinham.

Enfim, a rã deste pequeno charco sentia-se muito só.

Desamparada. Infeliz.

Perguntem, se fazem favor, porque é que a rã se não mudava para charco mais amplo e povoado?

Porque temia que tão perto não houvesse outro. Ora, como devem saber, as rãs detestam perder tempo a saltar em seco. A água faz-lhes falta. Sem ela, perdem o luzidio da pele e a força de vida. Não sabiam?

Um dia, começou a chover que nunca mais parava. Dia e noite. Noite e dia.

Os campos ficaram alagados. Os rios sobraram do leito.

Pequenos charcos, afastados uns dos outros, juntaram-se num enorme lago.

Foi uma inundação terrível. Veio nos jornais e a televisão deu notícia. Casas de que só o telhado se via.

Animais afogados. Gente a ser salva em barcaças por bombeiros. Uma desgraça.

Mas como esta história pertence à rã, esta história tem um fim feliz. A rã, passada a tempestade, encontrou companhia. Dezenas de rãs coaxam agora, em coro, glorificando a chuva, a abundância das águas, o abraço do lago imenso que as juntou.

Aqui entre nós e em segredo vos peço que nunca contem esta história a pessoas que tenham sofrido os efeitos trágicos de uma inundação. Não iam gostar.

António Torrado

www.historiadodia.pt

domingo, 11 de abril de 2010

Paulo Medeiros: "Elevem-se as Gentes que amam a sua Cultura".

O artista plástico Paulo Medeiros publica no blog um trabalho seu com o título: "Elevem-se as Gentes que amam a sua Cultura".


Antígona, de Sófocles

O trágico destino do parricida e incestuoso Édipo, não foi suficiente para diminuir a ira dos deuses. A maldição pelo seu crime se estende a toda sua descendência. Seus filhos, Polinices e Etéocles, morrem lutando às portas de Tebas, um pela espada do outro. Polinices se aliou aos guerreiros de Argos para derrubar a tirania de Creonte, seu tio, defendido por seu irmão Etéocles. Creonte, para evitar novas revoltas em seu reino, concede a Etéocles as honras da sepultura e ordena que Polinices permaneça insepulto, sem homenagens fúnebres e entregue aos abutres. Decreto que deixa Antígona e Ismênia, irmãs dos mortos, em delicada situação: seguir a lei dos homens (decretada por Creonte) ou a lei divina (as mulheres da família devem honrar seus mortos)? Antígona escolheu seguir a lei divina. Convidou Ismênia para juntas cumprirem os funerais do irmão. Ismênia, com receio da ira de Creonte, repreende a irmã e decide não tomar parte nessa loucura. Antígona faz tudo sozinha. Logo cedo se espalha a noticia de que o decreto real fora violado e não tardou para que Antígona fosse descoberta e condenada a ser emparedada viva (para que o rei não se sujasse com esse sangue derramado). Seu crime: a piedade pelo irmão insepulto. Creonte, por atentar contra as leis divinas (leis-não-escritas), fora advertido pelo cego adivinho Tirésias, que sofreria a ira dos deuses. Sua descendência estaria condenada à desgraça. Hêmon, filho de Creonte é noivo de Antígona e também tenta mudar a idéia do pai de punir a noiva. Creonte não o escuta. Hêmon decide morrer com a amada e foge do pai dizendo que nunca mais quer rever seu rosto. Antígona foi encerrada em uma caverna com uma porção de comida que dê para um dia, para que a cidade não fosse maculada pelo sacrilégio. O velho Tirésias volta a falar com Creonte em seu palácio a respeito do castigo que os deuses reservam para o rei se este não voltasse atrás em seu injusto decreto. Consegue convencê-lo e Creonte vai com suas próprias mãos sepultar Polinices e libertar Antígona. Após realizar os rituais fúnebres do cadáver já devorado por cães, dirigindo-se para a gruta onde está Antígona ouve um grito alucinante. Corre para dentro do tumulo e encontra Hêmon segurando o corpo de Antígona que se enforcou com o próprio cinto. Ao ver o pai, Hêmon o responsabiliza pela morte de sua amada e saca sua espada contra ele. Creonte escapa do golpe, mas Hêmon vergando a espada contra si próprio, crava-a no peito com furor e morre ao lado de sua noiva. Creonte desolado toma o filho nos braços e corre para seu palácio. Mas, a noticia do acontecimento corre mais rápido e quando ele chega Eurídice, sua esposa, tão logo soube da morte de Hêmon, desferiu um profundo golpe com um ferro pontiagudo no fígado e já sem vida recebeu Creonte no palácio. A rainha morreu lançando sobre o marido a culpa pela morte de seu filho. O rei amaldiçoado e infeliz já não quer mais viver e aguarda com sua culpa a vinda de outra morte pelos seus desejos: a sua própria.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

quarta-feira, 7 de abril de 2010

É (de)gustar

É (DE)GUSTAR



Os dias contados do porco



Gustave está de volta para falar aos seus fiéis leitores dos dias contados do porco, por estarmos em época de fazer tremer qualquer porco que se preze. E vai lembrar-vos a história da Quinta do Solar que era, por fora, igual a tantas outras de Inglaterra. Mas os animais, ali, sonhavam viver livres da exploração dos homens. Guiados por um porco, o Velho Major, expulsaram de lá o bêbado Sr. Jones, seu proprietário e criaram naquela quinta, que agora se chamava “dos Animais”, um novo regime – o Animalismo. Em que era proibido matar outros animais, andar sobre duas pernas, usar roupas e beber álcool. Não haveria mais propriedade privada, todos os animais seriam iguais, os frutos do trabalho repartidos fraternalmente e as decisões tomadas em assembleias, sem privilégios. Assim foi até que outro porco, Napoleão, assumiu a administração da quinta. Passando logo a mentir, a trair e a ter outros vícios humanos. Já não sendo mais possível “distinguir quem era homem e quem era porco”. Não foi por acaso que Orwell em “A Revolução dos Animais” (“Animal's Farm”), escolheu um porco para liderar os outros animais, nessa revolução. Por lhe sobrar esperteza e malícia. Assim foi desde o princípio dos tempos, quando sobreviviam em florestas de sobreiros e azinheiras. Eram mais ferozes e mais robustos, presas afiadas, visão pouco precisa, audição e olfacto bem desenvolvidos. “Sanglier”, nome francês do javali, vem do latim “singularis”, que significa, precisamente, solitário. Foi dos primeiros animais a serem domesticados pelo homem. Depois da ovelha, do cão e da cabra; mas antes da vaca, do burro, do cavalo e do dromedário. A primeira receita conhecida vem da China (500 a.C.) – porco recheado de tâmaras, envolvido em palha misturada com argila; assado em buraco com brasas, coberto com terra. Os dias contados do porco são marcados por amores e desamores. Até nos textos sagrados. O Levítico (11, 2 a 8) ensinava aos judeus que entre todos os animais da terra podiam comer todo o animal que tivesse a unha fendida e o casco dividido e que ruminasse. Mas não podiam comer aqueles que só ruminavam ou só tivessem a unha fendida... como o porco que tem a unha fendida e o pé dividido, mas não rumina. Na Grécia, é citado por quase todos os pensadores. Homero refere-se, na Odisseia, a Circe, que transforma os companheiros de Ulisses em porcos. Hércules enfrenta o javali de Erimateia. E Teseu, a porca de Crommyon. Na idade média a carne de maior prestígio, em toda a Europa, era a de porco. Além de saborosa, essa carne definia, nos tempos da inquisição, cristãos (os que a tinham à mesa) e judeus (proibidos desse consumo). Porcos eram engordados com restos de comidas, na “corte” – nome dado a pocilgas situadas junto às casas, sendo a matança desses porcos “exemplo supremo de festa lúdica”. Fazia-se “o cozido da matança” com carnes frescas ou salgadas (rabo, orelha, barbela, focinho), além de enchidos (chouriço, linguiça, cacholeira e farinheira), de porco morto no ano anterior. Do porco tudo se aproveita. Mas o porco vem mudando, com o tempo. O de hoje é “light”. Tem menos gordura, mais músculo e mais carne no lombo (a mais apreciada). Por meio de cruzamentos e mudanças na dieta, perdeu cerca de 30% de sua gordura primitiva, 14% de calorias e 10% de colesterol, julgo saber. Como se não bastasse, o porco também fornece órgãos para serem transplantados no homem, tendo as suas válvulas para implante no coração melhor qualidade e mais aceitação que as de material sintético. Com tantas qualidades, já se vê o quanto de injustiça há na fama que têm os porcos na nossa cultura. Talvez pensando nessa injustiça, em sua defesa veio o estadista inglês Winston Churchill. É dele a observação, generosa, de que “cães olham para si de baixo para cima. Os gatos olham para si de cima para baixo. Só os porcos olham para si olho no olho, como iguais”. Apesar de tantos arroubos, um dos seus pratos preferidos era precisamente porco.



Gustave Gousteau, in Jornal Beirão, 2009

domingo, 4 de abril de 2010

Pedaços de Linguagem

Pedaços de Linguagem

Ana Oliveira

A Linguagem da Alice, do Chapeleiro Maluco e do Coelho Branco

Sendo usualmente retratado como um homem baixo, com uma cartola grande e uma carta na faixa que o envolve, o Chapeleiro surge numa parte em que ele e a Lebre de Março (uma lebre falante) convidam Alice para beber chá. Ele é ainda lembrado por um personagem baseado nele que aparece na Banda Desenhada de Batman chamado Jervis Tetch, mas que adopta o nome de Chapeleiro Louco (Mad Hatter). O livro é uma viagem. Numa linguagem fácil e descontraída, nada é nonsense! Aquelas metáforas dão vazão à criança que sempre existirá dentro de nós, mesmo que nos transformemos numa carcaça ambulante que vai morrer, não quer morrer – resiste.Fica claro mais do que nunca que o melhor escape é sonhar! Quem perder essa capacidade, já era e nem percebeu! Sonhos malucos ou não, que sejam concretos! Viver é brincar com a imaginação, tornar um dia entediante num gozo puro! E é sonhando que a história de Alice começa e é assim que a de todos nós deve continuar.
O livro pode ser interpretado de várias maneiras. Uma das interpretações diz que a história representa a adolescência, com uma entrada súbita e inesperada (a queda na toca do coelho, iniciando a aventura), além das diversas mudanças de tamanho e a confusão que isso causa em Alice, ao ponto de ela dizer que não sabe mais quem é após tantas transformações (o que se identifica com a psicologia adolescente). Também é possível dizer que a obra faz referências a questões de lógica e à matemática, matéria que Carroll leccionava. Um exemplo é o debate que Alice faz com o Chapeleiro e a Lebre de Março sobre relações inversas (o Chapeleiro argumenta que ver o que se come não é o mesmo que comer o que se vê). Carroll também faz referências à língua francesa, como no capítulo 2, onde Alice se comunica com um camundongo em francês, perguntando "Où est ma chatte?" ("onde está a minha gata"), o que o deixa assustado. Além disso, no capítulo 4, um criado do Coelho Branco diz que estava a cavar maçãs, uma provável referência à expressão que significa "batata" em francês, "pomme de terre"; a tradução literal dessa expressão é "maçã da terra".
O nonsense de Carroll continha um elemento extra na formação do texto: a matemática. A obra de Carroll foi constituída através de jogos de linguagem, baseados na Lógica, nos quais os capítulos só terminam quando as proposições se esgotam. Carroll usou os seus conhecimentos matemáticos e lógicos para construir proposições em Alice no País da Maravilhas, sendo muitas vezes o significado particular da frase superado pela forma, sugerindo brincadeiras comuns da época.
A análise do sumário da obra, observando os títulos dos capítulos, permite ver uma colagem de histórias, casos curtos que poderiam existir independentemente, se não fosse a intenção do autor escrever um verdadeiro conto de fadas, tornando a viagem pelo país das maravilhas um sonho de Alice, e fazendo a correspondência ao episódio inicial em que ela lê um livro enfadonho antes de cair no sono. A Lagoa de Lágrimas, Um Chá Maluco e O Campo de Críquet da Rainha são capítulos que remetem o leitor a cenas muito visuais, seja pela descrição nada usual dos acontecimentos ou pelo inusitado dos diálogos. A concordância entre o início e o final aparece como uma prova de coerência na construção da narrativa, pois os leitores não exigem uma lógica total dos acontecimentos dentro do romance, uma vez que se trata do enredo de um sonho, universo onde as coisas mais incomuns são aceites como naturais.
Em toda a história de Alice são encontrados 24 poemas, entre os quais 10 são paródias de poemas e canções inglesas da época de Lewis Carroll. “Os poemas e os versos que Alice recita, e que parecem não ter sentido nenhum, são sátiras aos poemas enfadonhos que as crianças inglesas daquela época tinham que saber de cor.” A posição de Alice, de mãos unidas, ao fazer
récitas indica que era exigido das crianças da época saber as lições de cor.
O dia do chá maluco não é uma data qualquer, é o dia do aniversário de Alice Liddell, 4 de Maio. Ninguém diria a uma menina vitoriana que o seu cabelo estava comprido demais. A observação “o seu cabelo está a precisar de um corte” dita pelo Chapeleiro Louco, na verdade, era uma frase muito ouvida por Carroll, pois este usava os cabelos mais longos do que era costume. A parte na qual a Lebre de Março e o Chapeleiro Louco tentam enfiar o Caxinguelê no bule de chá pode estar relacionada com o facto de que crianças vitorianas costumavam ter ratinhos como bichos de estimação e conservavam-nos dentro de bules cheios de capim ou feno.
A Lebre de Março refere-se ao mês do cio das lebres; o Chapeleiro é louco por causa de uma substância alucinogénea usada na fabricação de chapéus; o Leirão dorme muito por ser um animal que hiberna no inverno e a Falsa Tartaruga refere-se à sopa de falsa tartaruga, que na verdade é feita com carne de vitela.
Durante uma conversa com a duquesa, Alice fica indecisa entre classificar mostarda como animal, mineral ou vegetal. Trata-se de uma referência ao popular jogo de salão vitoriano “animal, vegetal, mineral”, em que os jogadores tentavam adivinhar o que alguém tinha em mente. As primeiras perguntas feitas eram tradicionalmente: É um animal? É um
vegetal? É um mineral? As respostas tinham de ser sim ou não, e o objectivo era adivinhar correctamente em 20 perguntas ou menos. Devido às semelhanças no comprimento dos nomes, e às posições das vogais, consoantes e letras duplas no último nome, acredita-se que Charles tenha se inspirado na formação do nome de Alice Liddell para criar o seu pseudónimo Lewis Carroll. Para fazer uma adaptação não muito distante da obra literária original, apenas a apropriação do tema não é suficiente; é também necessário resgatar o trabalho com a linguagem característica do texto em questão. Quando a época em que tal obra foi escrita e a época em qual a adaptação é lançada diferem muito, essa captação da linguagem se torna algo extremamente trabalhoso, se não impossível. Afinal, a mentalidade e a ideologia dos leitores já vai ser totalmente diferente. E, já que a isso se soma o facto de que os países envolvidos são diferentes, fazer uma adaptação - diga-se, tradução - envolve variações culturais bruscas, dificultando ainda mais o entendimento dos leitores.
Com "Alice no País das Maravilhas", a situação não é muito diferente - na verdade, é até mais difícil, já que os complexos simbolismos de Carroll estão directamente ligados à cultura inglesa do século XIX. Isso acarreta uma perda cultural nas traduções. O livro de Carroll é marcado por jogos entre os sons semelhantes de palavras diferentes e os significados captados pelos personagens, o que gera ruídos na comunicação. Para passar a português trechos contendo esses jogos, as edições brasileiras fizeram a tradução com base na ideia de que a relevância está nessa brincadeira, nos seus sons, e não no significado do signo. Ainda assim, fazer a tradução dessas palavras mostra-se um árduo trabalho. Um dos trechos em que os tradutores devem ter sentido essa dificuldade é o de quando o Gato pergunta a Alice o que havia acontecido ao filho da Duquesa e a menina responde que ele virara um porco (“pig”, em inglês). Algum tempo depois, ele retorna e pergunta se ela havia dito “porco ou corvo”. Na versão inglesa, a palavra de som semelhante a “pig” utilizada é “fig” (que seria "figo" em português). Os signos “corvo” e “figo” nada têm de semelhante, mas foi a solução encontrada pelos tradutores para que o não entendimento do Gato diante da fala da garota e o jogo de palavras de Carroll sejam captados pelos leitores. Há também os casos em que o trecho original remete não só a um jogo de palavras e sons, mas também a um sentido que alude a um significado específico. Na tradução, esse sentido muitas vezes perde-se, pois apenas o jogo foi considerado.
Compare as versões:
Versão em inglês             
‘...I hadn’t begun my tea – not above a week or so – and what with the bread-and-butter getting so thin – and the twinkling of the tea – ’
‘The twinkling of what?’ said the King.
‘It began with the tea,’ the Hatter replied.
‘Off course twinkling begins with a T’

Tradução literal
‘Eu não tinha começado o meu chá – não mais que uma semana – e com o pão com a manteiga ficando finos – e o cintilar do chá –’
‘O cintilar de quê?’ disse o Rei.
‘Começou com o chá,’ replicou o Chapeleiro.
‘É claro que cintilar começa com um T’”

Tradução do Livro ‘e nem tinha começado a tomar o meu chá...há não mais que uma semana, mais ou menos...e o pão com manteiga ficando cada ve mais fino...e o chacoalhar do chá...'
‘O chachoalhar do quê?' disse o Rei.
‘Começou com o chá', respondeu o Chapeleiro.
‘Claro que chacoalhar começa com chá!"

Na tradução feita, a brincadeira com as palavras é mantida, mas não o sentido do trecho. O Chapeleiro, ao afirmar o "cintilar do chá", referia-se à canção mencionada por ele mais cedo, durante a cena do chá maluco. Ele referia-se ao cintilar da "bandeja de chá" ("tea-tray", em inglês), quando foi cortado pelo Rei, que confundiu o som de "tea" com o da a letra "T".

In Jornal Beirão 3/10

O melhor do mundo são as crianças

O Melhor do Mundo são as Crianças…


No mundo de hoje, a abertura e a tolerância são o mote presente em todas as circunstâncias. Aceitam-se as uniões de facto e os casamentos homossexuais, mas não há dose de tolerância suficiente para nos fazer compreender a pedofilia fora do âmbito da patologia. Muito se tem falado deste fenómeno que mancha a sociedade a propósito de casos que aconteceram na Suíça e, de há cinco anos a esta parte, bem mais perto de nós, na Casa Pia. De vez em quando, surge a notícia de que este ou aquele professor foi acusado de seduzir alunos. No entanto, mais arrepiante, ainda, é a onda de escândalos de pedofilia que tem vindo a afectar a igreja católica em países como a Irlanda, a Holanda, a Alemanha, a Áustria, a Espanha e os Estados Unidos e que tem estado na origem de debates sobre as repercussões do celibato e da abstinência sexual nos sacerdotes, tradição milenar que o Vaticano continua a defender de modo ferrenho, argumentando que a maioria dos casos de abuso acontece dentro da família e não em meios religiosos, por isso tal posição não passa de uma instrumentalização das recentes denúncias de pedofilia.
A gravidade das suspeitas levantadas, que também envolvem a alegada conivência do papa Bento XVI, obriga a um esclarecimento convincente e urgente por parte da Igreja sem qualquer tentativa de escopo na fragilidade de um líder de 83 anos que já não consegue acompanhar um acto religioso sem o recurso ao “papamóvel”. Uma religião, seja ela qual for, usufrui de um papel importante nas sociedades, em geral, e no indivíduo, em particular, enquanto veículo de transmissão e de garantia da preservação de determinados valores, mas usar da boa fé dos seguidores para exercer actos que negam os princípios mais elementares é uma política desastrosa, na medida em que derruba qualquer alicerce, independentemente da força da sua sedimentação. O triste episódio “Murphy” passado com crianças surdas e outros que já fazem lista por muitos lados, incluindo também nomes portugueses, estão a movimentar grupos de católicos que pretendem questionar o papa, exigindo dele, no pleno desempenho do instituído estatuto de representante de Deus na Terra, uma tomada de posição firme e disciplinadora, mas, sobretudo, dissuasora de repetições e recidivas. Ignorar que se vive a pior crise do pontificado de Ratzinger não será a melhor solução; todavia encetar um processo de vitimização traduzir-se-á, seguramente, numa estratégia errada, já que o slogan “caça às bruxas” faz-nos lembrar acontecimentos passados que pouco abonam a favor da Madre Igreja.
É imperioso que as famílias católicas consigam reatar a confiança nos membros do clero, sob pena de ser irremediável a perda de fiéis que, cada vez mais, escasseiam nas cerimónias dominicais. Muita da fé perdeu-se devido a algum fundamentalismo temperado com posições retrógradas e desfasadas das realidades sociais, mas provar-se que padres e bispos foram protagonistas em actos de pedofilia e mereceram o silêncio por parte dos seus responsáveis hierárquicos poderá ser a machadada decisiva na grande congregação dos católicos do mundo. Nunca nos esqueçamos de que estamos a reportar-nos a países ditos desenvolvidos e não a países de um mundo, tantas vezes olhado como menor, em que as crenças ditam, por exemplo, que estabelecer relações sexuais com bebés, por serem crianças sem mácula, pode curar a SIDA.
Pugnemos todos, ultrapassando as diferenças de qualquer ordem, por vivermos num espaço social que se coadune com as sábias palavras pessoanas, sempre actuais, “grande é a poesia, a bondade e as danças…/ mas o melhor do mundo são as crianças…”

Teresa Adão, in Jornal Beirão, 3/10

quarta-feira, 24 de março de 2010

Cientistas de Carnegie Mellon fazem descoberta revolucionária a nível cerebral

Cientistas de Carnegie Mellon fazem descoberta revolucionária a nível cerebral
Escrito por CienciaPT
23-Mar-2010
Os neurocientistas Marcel Just e Vladimir Cherkassky e os cientistas informáticos Tom Mitchell e Sandesh Aryal, da Universidade de Carnegie Mellon, parceira de nove instituições do Ensino Superior de Portugal, conseguiram determinar como é que o cérebro organiza representações de substantivos, combinando imagens cerebrais e técnicas de aprendizagem mecânica.


Esta descoberta, espécie de Pedra de Roseta neural, é um importante avanço para o tratamento de doenças do foro psiquiátrico e neurológico, ao permitir compreender como é que o cérebro codifica os substantivos.

“Descobrimos como é que o dicionário do cérebro está organizado”, explica Marcel Just, professor de Psicologia e director do Center for Cognitive Brain Imaging. “Não é apenas uma ordem alfabética ou segundo cores e tamanhos. Fá-lo através de três características básicas usadas pelo cérebro para definir substantivos comuns como ‘apartamento’, ‘martelo’ e ‘cenoura’”.

Este estudo permitiu, pela primeira vez, identificar pensamentos estimulados por palavras isoladas com precisão, através de imagens cerebrais, ao contrário de estudos anteriores que recorriam a estímulos visuais ou combinados com palavras. A equipa foi também capaz de prever onde se daria a activação mediante um substantivo apresentado aos participantes. A comparação de imagens sobre os resultados esperados e obtidos mostram que as teorias geram previsões bastante precisas.

Nas doenças psiquiátricas e neurológicas, os significados de certos conceitos estão, algumas vezes, distorcidos. Estas novas técnicas tornam possível a medição dessas distorções e apontar um caminho para as contrariar. Por exemplo, uma pessoa com agorafobia, medo de espaços abertos, pode ter uma codificação exagerada da dimensão abrigo. Uma pessoa com autismo pode ter uma codificação mais fraca em contacto social.

Os três códigos ou características relacionam-se com três fundamentos: como é que nos relacionamos fisicamente com o objecto (como o seguramos, por exemplo); como é que está relacionado com o acto de comer; como é que está relacionado com a ideia de abrigo. Os três factores, cada um codificado entre três a cinco diferentes áreas do cérebro, foram descobertos através de um algoritmo, que procurou pontos comuns entre áreas cerebrais dos participantes que respondiam a 60 substantivos que descrevem objectos físicos. Por exemplo, a palavra “apartamento” provocou alta activação nas cinco áreas que codificam palavras relacionadas com “abrigo”.

A pesquisa demonstrou também que o significado dos substantivos é codificado de forma similar no cérebro dos vários participantes. “Este resultado demonstra que, quando duas pessoas pensam sobre a palavra ‘martelo’ ou ‘casa’, os padrões de activação cerebral são bastante similares”, confirma Tom Mitchell, responsável pelo Machine Learning Department na School of Computer Science.

O professor Jaime Cardoso, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, está desde Janeiro neste departamento da Universidade de Carnegie Mellon a colaborar na área de investigação em aprendizagem automática (machine learning), visão computacional e em sistemas de apoio à decisão que beneficiem as duas áreas anteriores. Uma experiência proporcionada pelo Programa Carnegie Mellon|Portugal, financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no âmbito do programa de intercâmbio de professores. Trata-se de uma iniciativa que se traduz numa oportunidade única para os académicos e para as instituições, pela imersão cultural dos docentes e pela promoção de mudanças positivas através da adopção das melhores práticas na educação, na investigação e na inovação.

Esta descoberta tem ainda implicações no desenvolvimento e nos testes a nível neural: “Nós ensinamos a mente, mas estamos a moldar o cérebro, e agora podemos testar o cérebro sobre o quão bem aprendeu um conceito”, conclui Marcel Just.

Laboratório do Porto estuda a dor na face humana

Laboratório do Porto estuda a dor na face humana
Escrito por CienciaPT
22-Mar-2010
O Laboratório de Expressão Facial da Emoção (FEELab), da Faculdade de Ciências da Saúde (FCS), da Universidade Fernando Pessoa (UFP), está a estudar a expressão facial da dor, revelou sexta-feira à noite em Guimarães o Director daquela instituição.


"A identificação e o reconhecimento dos traços neuroanatómicos da expressão da dor abram caminho a uma saudável interacção dos pacientes e clínicos nas unidades de saúde", disse Freitas-Magalhães que falava, no âmbito da Semana Internacional do Cérebro 2010, na FNAC em Guimarães na apresentação do seu livro "Expressão Emocional: O Cérebro e a Face", que conta com contributos de cientistas das Universidades de Oxford, Cambridge e Nova Iorque, entre outras.

"O mapeamento dos traços da dor permitirá a compreensão imediata do desconforto e uma intervenção mais assertiva", observou aquele especialista, para quem "o rosto é uma impressão digital de constatação imediata do sofrimento humano".

"Os mecanismos neuropsicofisiológicos da dor fornecem informação útil e real ao nível da face sobre o estado de saúde da pessoa que urge aproveitar na profilaxia e tratamento da dor", concluiu Freitas-Magalhães.

A investigação "A Dor com Rosto", que conta com diversas parcerias clínicas nacionais e internacionais, está a ser desenvolvida, âmbito do projecto pioneiro FACE que se iniciou em 2009 e pretende cartografar ao longo de uma década os movimentos e linguagens faciais dos portugueses.

O Laboratório de Expressão Facial da Emoção (FEElab), fundado em 2003, tem sido distinguido por diversas entidades internacionais pelo "pioneirismo e inovação" do seu trabalho científico.

IV International Neuroscience & Special Education

Comissão Organizadora
Bruno Lopes
Ruben Amorim
Cátia Mateus
Fernando Rodrigues
Hugo Carvalho
Miguel Amaral
Pedro Azevedo
Julien Diogo
Carolina Correia
Comissão Cientifica
Carlos Fernandes da Silva
Carlos de los Reyes Aragón
Cesar Blumtritt
Ernesto Barceló Martinez
Fernando Rodrigues
Jorge Herrera Piño
Adolfo Alvarez
Paula Mayoral
Manuel Domingos
Vitor Cruz
À semelhança do sucedido em anos transactos, a PsicoSoma organiza em Viseu, nos próximos dias 14 e 15 de Maio, o V Congresso Internacional de Neurociências e Educação Especial.

A data da realização do congresso cruza-se com o nascimento da PsicoSoma, dia 14 e 15 de Maio de 2005, como habitual, assinalando assim 5 anos de existência no mercado português e não só.

O ano de 2009 foi um ano de grandes alterações funcionais e expansão de presença no mercado nacional, com a abertura da Unidade de Aveiro, e brevemente as unidades de Coimbra, Lisboa e Braga. Assim, pretendemos que 2010 seja um ano ainda melhor, que supere todas as expectativas dos amigos psicossomáticos.

Este congresso surge como o talismã PsicoSoma, cujo objectivo é apoiar novas projecções e edições técnicas na área da educação especial, sugerindo por isso novos nomes na região, querendo mostrar novas abordagens à Educação Especial a partir do cérebro.
O tema deste ano para o congresso é "Learning in Neuroscience" (A aprendizagem vista pelas neurociências).

Trazer à cidade de Viseu os melhores neuroscientistas, neurologistas, neuropediatras, neuropsicólogos, psicólogos, psiquiatras, profissionais da área da educação especial, investigadores da área da Educação Especial, surge como o grande objectivo de modo a que possam ser apresentadas e debatidas várias temáticas, sejam feitas trocas de conceitos, experiências e estudos.

Os preços de inscrição até 01 de Maio de 2010 são:

40 EUROS Estudantes
50 EUROS Profissionais
550 EUROS Grupos de 15

A partir de 01 de Maio acresce 10€





O preço inclui:

- Certificado de Participação;
- Acesso aos coffee breaks
- Acesso a todas as conferências realizadas no evento
- Possibilidade de apresentar poster no evento sem custo adicional;
- Documentação do evento (não inclui actas) a disponibilizar em formato CD
Este evento tem a certificação científica da Interamerican Academy of Applied Cognitive Neurosciences e a certificação de formação profissional pela empresa PsicoSoma

sábado, 20 de março de 2010

Teatro: Europa - Jorge Fraga

É já dias 24, 25, 26 e 27 de Março que o Teatro da Academia - Viseu, apresenta a sua última produção no CAFAC - Serviços Centrais do IPV

sexta-feira, 19 de março de 2010

Esta forma de trocar ideias, saberes e sabores partiu de um grupo académico que, por questões de trabalho, partilhou o espaço fechado de uma sala durante dias a fio, tendo como única companhia os articulados das leis. Tal vivência permitiu, muito naturalmente, que se extravasasse a malha apertada do tema em questão, que se trocassem experiências e se falasse da doçura dos gostos de cada um, numa perspectiva de alerta de sentidos registada nas imagens que o ser humano capta do mundo que o rodeia. A fase seguinte foi um encontro gastronómico num local de sabores, onde a amizade e os laços relacionais criados ou aprofundados se traduziram na espontaneidade das surpresas.

Dos saberes aos sabores, vale tudo neste blogue que se quer de partilha, de transversalidade de conhecimentos, de pensamentos, de sentires acerca do que vai pelo mundo e nos incomoda, mas que nos pode congregar numa confraria que pretendemos alargar a todos aqueles que, tal como nós, sintam que ainda vale a pena investir na busca pela compreensão do que move esta grande bola azul onde nascemos e de onde não há esperança que venhamos a sair algum dia. Inscrevam-se e passem a todos os amigos com quem queremos mudar o mundo!