segunda-feira, 12 de abril de 2010

Deus apenas criou a água…

Deus apenas criou a água…


Hildérico Coutinho

Era minha intenção falar-vos, nesta crónica, da prova cega para a escolha dos vinhos que foram escolhidos para o Top10 da Wine. No entanto, tal não vai se possível por não ter na minha posse as notas que dei aos vinhos em prova e era essa a abordagem que pretendia. Assim, ficará para a próxima, já ia a dizer, se Deus quiser, mas como ateu que sou, não posso falar disso.

Falarei então de duas provas belíssimas e didácticas em que tive o prazer de participar: a prova vertical dos vinhos moscatéis de Setúbal da José Maria da Fonseca e a prova comemorativa dos 100 anos da República.

Ambas foram prazerosas e da primeira destaco, até pelo preço convidativo que apresentam, os moscatéis roxos com cerca de 10 anos de idade, que apresentam uma complexidade e qualidade absolutamente ímpares. Da segunda prova, em que provámos, três vinhos de 1910 e um de 1908, um Porto, um moscatel e dois da Madeira, devo dizer, que parti para ela condicionado. Esperava que os vinhos da Madeira “atropelassem” os concorrentes. De facto, os vinhos da Madeira ainda poderiam ter ficado em casco, onde de facto envelhecem, por mais alguns anos, tal a juventude que apresentaram. No entanto, como vós bem sabeis, a juventude tem raça, mas nem sempre qualidade e quase nunca complexidade. O vinho do Porto estava cansado, o que não me espantou por estarmos a falar de um vintage. Surpreendente foi a qualidade do moscatel apresentado, com uma complexidade ao nível dos melhores néctares que bebi, longe do estilo cansado que por vezes tive a oportunidade de provar e com a nota, digna de registo, de ter sido engarrafado após 75 anos em barricas. Absolutamente fantástico e os senhores da José Maria da Fonseca estão de parabéns.

Mais uma vez, se já não me tivesse acontecido por demasiadas vezes ainda poderia tomar por lição, mas a verdade é que não podemos ser preconceituosos em relação ao vinho, como aliás, não o devemos ser em relação a nada na nossa vida.



Quero pois exortá-los (gosto desta expressão) a viverem e a beberem de forma a “darem vivas à Cristina”, cujo significado ficará para uma próxima oportunidade.



Hildérico Coutinho

Detentor do 2º e 3º Nível do WSET (Wine and Spirits Education Trust)

www.galeriadevinhos.com

Quo Vadis? Enoteca e Cozinha Mediterrânica (Matosinhos)

In Jornal Beirão, 2010

Sem comentários: