domingo, 25 de abril de 2010

Deus apenas criou a água…

Deus apenas criou a água…


Hildérico Coutinho

Uma das vantagens dos jantares enogastronómicos que organizei sob a égide da Galeria de Vinhos e agora, mais amiúde, no Quo Vadis?, é o de descobrir vinhos e castas de um valor inesperado e inacreditável. Foi o que aconteceu recentemente com os vinhos da Gabriela Canossa, uma enóloga já com alguns anos de prática, responsável pelos vinhos de uma mão cheia de produtores e experimentalista por natureza, foi dela a primeira experiência, em Portugal, com colheitas tardias de uvas afectadas por Botrytis, usando a mesma casta que é utilizada em Sauternes e Barzac, por lá conhecida por Semillon e cá por Bual. O resultado foi o de tornar o nome Grandjó um nome respeitado, no que a vinhos de colheitas tardias diz respeito

Mais recentemente, com a Quinta da Revolta, tem experimentado fazer vinhos mono casta, com espécimes que estavam em risco de desaparecer e que graças a esse esforço, estou certo, não mais acontecerá. Falo-vos da Touriga Fêmea e da Tinta Francisca, que durante uns tempos se disse ser a grande Pinot Noir da Borgonha, mas não parece ser esse o caso, até pelo vinho que me foi dado provar. De facto, o belíssimo vinho que tive oportunidade de beber desta casta está longe de ter a cor típica de um Pinot, que mais parece um clarete. Este tem uma cor bem mais intensa, aromas a frutos pretos e que com o passar do tempo se tornam parecidos com o vinagrinho típico do vinho do Porto. Grande vinho e a um grande preço (12,20€ na Galeria de Vinhos) este Tinta Francisca de 2006, que sendo um ano difícil, mais abona a favor da casta. A casta Touriga Brasileira, perdão Touriga Fêmea, que tiveram medo que se pensasse que ela tivesse vindo do outro lado do Atlântico e resolveram rebaptizá-la. As loucuras habituais de quem tem poder e gosta de o demonstrar. Mas, dizia eu, a Touriga Fêmea é de facto muito feminina, pois o vinho que origina é de uma elegância a toda a prova e fantástico para acompanhar um polvo ou um bacalhau.

Neste tempo em que grande parte dos vinhos do Douro e não só são portentosos é de louvar o aparecimento de uma casta que origina vinhos tão elegantes como este de 2007 que bebi.

Outra novidade que também apreciei foi um Riesling, já vos falei desta grande casta alemã, da zona de Pinhel, com vinhas a 800 metros de altitude e que deram origem a um vinho muito engraçado, do melhor que já provei desta casta produzido em Portugal, pois que para atingir o nível dos grandes vinhos alemães ainda terá de crescer um bom bocado. No entanto, para quem está a começar a dar os primeiros passos, só podemos dizer que são muito promissores. De facto este Casas Altas –Riesling 2008 tem um estilo que é muito apreciado na Alemanha, pois apresenta uma grande mineralidade e a acidez é controlada por um açúcar residual que o torna mais fácil para a maioria dos palatos.

Desde já e publicamente aqui vai o meu obrigado aos produtores que vão permitindo à Canossa estas experiências.

Hildérico Coutinho

Detentor do 2º e 3º Nível do WSET (Wine and Spirits Education Trust)

www.galeriadevinhos.com

Quo Vadis? Enoteca e Cozinha Mediterrânica (Matosinhos)

In Jornal Beirão 2010

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