segunda-feira, 20 de junho de 2011

Manuel António Pina: Prémio Camões 2011

Um poema:

A poesia vai acabar, os poetas
vão ser colocados em lugares mais úteis.
Por exemplo, observadores de pássaros
(enquanto os pássaros não
acabarem). Esta certeza tive-a hoje ao
entrar numa repartição pública.
um senhor míope atendia devagar
ao balcão; eu perguntei: «Que fez algum
Poeta por este senhor?» E a pergunta
afligiu-me tanto por dentro e por
fora da cabeça que tive que voltar a ler
toda a poesia desde o princípio do mundo.
Uma pergunta numa cabeça.
– como uma coroa de espinhos:
estão todos a ver onde o autor quer chegar? –

Poesia Reunida, p.38, Assírio&Alvim, 2001

sábado, 18 de junho de 2011

Diretora das Edições Esgotadas vence Concurso literário da ESEV "Era uma vez...Histórias com Matemática"!

Teresa Adão, com a história " Um Zero sem valor" vence concurso literário de Matemática

Um Zero sem Valor





No sofá branco de imitação de pele, os dez algarismos ajeitavam-se para ver o telejornal. Nunca lhes tinham dado tanto protagonismo nas notícias e eles sentiam-se privilegiados. É que, além de falarem deles organizados em números, ainda apareciam na televisão primorosamente desenhados e muito coloridos, facto que ainda lhes dava mais destaque. Quem não estava bem sentado era o Zero que, tendo o sofá apenas nove lugares, era sempre empurrado pelos outros. Se não fossem o Seis e o Nove que, tendo pena dele o aconchegavam um com o seu braço esquerdo e o outro com a sua perna direita, o infeliz Zero não conseguiria saborear o prazer de ser vedeta de televisão. Não se pense, todavia, que os restantes algarismos eram egoístas e mal formados, escorraçando sem motivo o companheiro. Na verdade, no Natal passado, quando o sofá foi comprado por todos, o Zero, o Um e o Dois bateram o pé e declararam que só pagavam a parte correspondente ao valor dos respectivos números. Acontece que, sendo assim, o Zero não contribuiu com nada para a aquisição do sofá branco. Ora, dado que a família dos algarismos era constituída por dez elementos e não encontraram em nenhuma loja um sofá com esse número de lugares, quem ficava sempre de fora era o Zero e acreditem que nunca refilava com medo de receber uma má resposta que o deixasse sem capacidade de argumentação.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Mario Vargas Llosa sobre Jorge Semprún

Mario Vargas Llosa sobre Jorge Semprún






Jorge Semprún



Las muestras de pena por la muerte de Jorge Semprún, desde el presidente de Francia hasta los lectores en el FB, siguen llegando. Aquí la opinión de Mario Vargas Llosa, quien lo conoció bien.



Dice la nota:



Yo creo que Jorge Semprún vivió no como testigo sino como protagonista los grandes tumultos históricos del siglo XX… Acometió la lucha contra el fascismo, fue un militante de la Resistencia y vivió la experiencia atroz de los campos de concentración de los que salvó de milagro. Luego vivió la ilusión comunista y las grandes facturas del comunismo cuando se rebelaron los campos de concentración, el GULAG… Participó después del intento de la experiencia eurocomunista y fue purgado por el comunismo estalinista. Pero no se desilusionó. Siguió siendo un militante luchando por una democracia de izquierdas con la que se comprometió. Fue también un gran escritor comprometido cuyos libros son un testimonio vivo con el que ingresó en las polémicas contemporáneas. Como Albert Camus, la suya fue una literatura llena de una gran preocupación moral. Fue un magnifico escritor, gran ensayista, muy amigo de sus amigos, un hombre servicial y sin fronteras, un europeo con una visión transnacional y generosa. La muerte de Semprún es una perdida que vamos a sentir mucho todos, los españoles, los franceses, la Europa en la que creyó; era una rareza, su ejemplo y su obra van a quedar. Éramos muy buenos amigos. Todos los que lo conocimos sentimos un gran vacío con esta muerte.